Uma chance para recomeçar

Diana Scarpine

Editora: Pandorga

Páginas: 432

Ano: 2016

Publicado em: 23/11/2017

Sinopse:

Carina é uma workaholic rica e bem-sucedida cuja vida se resume ao trabalho. Afogada em estresse, ela não se importa com a solidão que habita seu coração, pois o amor nunca foi uma das suas prioridades, até que algo inusitado acontece. Repentinamente, ela se vê privada do trabalho e deseja aplacar a solidão que a consome, principalmente quando conhece Aurélio, que a trata de uma forma diferente da qual ela está acostumada. Consumido pela tragédia que vitimou sua família e deixou-lhe sequelas físicas e emocionais, Aurélio não quer nada além de se afundar cada vez mais na dor e na culpa que sente. Suas certezas começam a ficar abaladas à medida que Carina se aproxima cada vez mais dele. Quantos obstáculos precisam ser vencidos para recomeçar? O amor é capaz de vencer as amarras do passado e o preconceito?

RESENHA:

Mais uma vez trago como dica de leitura um livro nacional.

A história de Aurélio e Carina é ambientada na cidade de Jequié, na Bahia.

Carina é uma mulher jovem, profissionalmente bem sucedida. É muito introspectiva e sua vida resume-se a trabalhar e estudar. Após um período de muito estresse e depois de defender sua dissertação de mestrado, Carina resolve tirar alguns dias de férias. Porém, em seu primeiro dia de descanso, ao acordar e olhar-se no espelho, percebe que um lado do rosto está completamente paralisado. Muito assustada com sua aparência, desespera-se e imagina as piores coisas possíveis. Decide voltar mais cedo das férias para procurar atendimento médico.

Carina descobre que sofreu paralisia facial, muito provavelmente ocasionada pela grande carga de estresse que seu trabalho traz, e inicia o tratamento com fisioterapia. Na clínica onde está sendo atendida, resolve também fazer sessões de massagem, por sugestão de outra paciente. É aí que ela conhece Aurélio.

Ele é o massoterapeuta e na primeira sessão Carina fica realmente satisfeita com o resultado, mas não permite que Aurélio toque em seu rosto, pois se sente constrangida diante de sua paralisia. Absorta em seu próprio problema, ela não percebe algumas coisas a respeito dele naquele primeiro momento.

Aurélio é um homem marcado pela tragédia que destruiu sua família. Dez anos antes, envolveu-se em um acidente de carro que levou à morte sua amada esposa Amália e sua filha pequena, Talita. Aurélio teve 50% do corpo queimado e, devido às fortes pancadas que sofreu na cabeça, ficou cego. Tornou-se um homem preso pela dor e pela culpa.

Bastou um segundo para que tudo se desfizesse e não me restasse nada. A felicidade estilhaçou-se contra meu rosto e eu me vi, irremediavelmente, perdido na escuridão da minha dor, da minha culpa, em uma espécie de morte em vida, um pesadelo sem fim. (Prólogo)

Na última sessão de massagem do dia, acredita que sua cliente não permitiu que ele tocasse seu rosto devido à repugnância que sentiu ao notar sua aparência. Além das mãos serem deformadas, seu rosto também é desfigurado e ele utiliza uma espécie de máscara para tentar ocultá-lo. Está acostumado a sofrer preconceito, por isso não percebeu que, na verdade, Carina não tinha se dado conta de sua deficiência ou de sua aparência.

Ao sair da clinica, Carina acaba esbarrando em Aurélio e após um diálogo tenso e constrangedor, ela descobre que ele é cego, mas não consegue convencê-lo de que o fato de não deixá-lo tocar seu rosto não foi um ato de preconceito.

À medida que as sessões vão acontecendo, uma amizade entre os dois vai surgindo e Carina sente-se cada vez mais intrigada e atraída por Aurélio.

Eu nunca tinha me dado conta de que a minha vida era desprovida de cores e atrativos, que o estresse era meu único companheiro em uma profunda e irremediável solidão. (…) Mas, quando senti o toque das mãos dele em meu corpo, assolou-me uma vontade irresistível de me desvencilhar das amarras da minha antiga vida e recomeçar. (Prólogo)

Surpreendentemente, apesar da timidez, Carina externa seus sentimentos a Aurélio, mas esse deixa claro que não há espaço na vida dele para ela, afinal ainda ama sua falecida esposa.

Entretanto, Aurélio percebeu algo acontecendo com suas emoções a respeito de Carina e não se sente digno dela.

Era a única que não se importava em ficar perto de mim, apesar de minha aparência grotesca, e era capaz de tolerar o meu humor instável e conversar comigo. O vazio, sempre presente em minha alma, parecia eclipsar-se diante da luz de sua presença, e era inegável que, de alguma forma, ela me fazia bem, mas entristecia-me o fato de não poder ser a mesma coisa para ela. (Página 101)

Como administrar esse sentimento após tantos anos vivendo na escuridão? Como se entregar a um novo amor se a dor e a culpa o consomem dia a dia?

“Uma chance para recomeçar” entrou fácil para minha lista de melhores leituras do ano. Diana Scarpine, minha conterrânea (somos baianas!), teceu a história com muita sensibilidade e fica impossível não se apegar às personagens. A narrativa é alternada entre os protagonistas, o que é bacana, porque permite ter uma visão mais ampla da história.

Aqui conhecemos duas personalidades bastante distintas, porém com vidas muito solitárias.

Aurélio e Carina viviam de maneira vazia, cada um com seus motivos. Quando o acaso coloca um na vida do outro, faz o leitor imaginar várias possibilidades e desfechos, mas os acontecimentos após esse encontro não são previsíveis. Muita coisa rola até que eles consigam, de fato, enxergar o que precisam para seguir em frente.

Alguns trechos foram difíceis para mim, pois a autora explora com muita realidade a dor do Aurélio. O pior na vida dessa personagem é o auto preconceito. A gente sempre espera esse tipo de sentimento das outras pessoas, mas quando somos preconceituosos com nossas próprias limitações, fica realmente complicado levar a vida com tranquilidade. É sempre um passo para frente, três para trás, nunca progredindo.

Achei muito interessantes algumas críticas que a autora fez no decorrer da trama. Utilizando a realidade de Jequié, ela nos chama a atenção para a falta de acessibilidade das cidades para os portadores de deficiências, assim como o descaso das autoridades públicas em muitos sentidos. Ela soube encaixar bem essas críticas na história, não destoando em nada do enredo.

Ainda que a trama esteja focada em Aurélio e Carina, ela trata de vários recomeços que você vai percebendo no desenrolar dos fatos. Outras personagens trazidas pela autora deram um toque ainda mais especial e dinâmico à história. Além disso, o visual do livro está incrível!

É um romance que vale muito à pena ter na estante!

Beijo carinhoso e até a próxima!

5 Comentários

  1. Marina Mafra23 nov, 2017Responder
    • Le26 nov, 2017Responder
    • Le26 nov, 2017Responder

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