Sinopse:
Pocahontas nasceu perto do final do século XVI como filha do chefe Powhatan. Foi ela, conhecida como Matoaka por seu clã, que intercedeu em nome de John Smith em 1608 e depois persuadiu seu pai a trazer comida para os colonos famintos de Jamestown. Todos conhecem o enredo de como a princesa indígena salvou a vida do capitão John Smith, mas essa não é a história completa. O romance “Princesa Pocahontas”, escrito por Virginia Watson em 1916, nos narra, a partir de diários e documentos da época, a vida da famosa princesa indígena.
Prepare-se para adentrar nas terras do Chefe Powhatan. As muitas tribos sob sua chefia estão espalhadas pelo território e as vitórias contra as tribos inimigas são certas quando se tem aliados fortes e um chefe sábio.
Mas nenhuma dessas coisas é tão valiosa para Chefe Powhatan como sua filha mais jovem, Matoaka, que significa Pequena Pena de Neve. Talvez você a conheça como Pocahontas, especialmente pela visão da animação da Disney de 1995.
Apesar de canções marcantes e uma personagem que inspira seus dezoito anos, ao menos, a realidade da jovem que viveu no século XVII era bastante distinta da que animação mostrou. Os dados podem não ser todos exatos, mas a autora Virginia Watson realizou pesquisas para escrever Princesa Pocahontas, especialmente através dos diários e relatos deixados por John Smith e conseguiu mesclar ficção e realidade de maneira primorosa.
“Pai, o senhor sabe como é difícil ser garota? Nautauquas, meu irmão, corre depressa, mas eu corro mais rápido do que ele. Consigo atirar tão reto quanto ele, ainda que não tão longe. Consigo ficar sem comer e sem beber tanto tempo quanto ele. Consigo dançar sem me cansar, sendo que ele fica ofegante. Mas ainda assim, Nautauquas será um grande huerreiro e eu – ouço me lembrarem de que dou uma garota. Não é difícil, meu pai? Por que, então, me deu braços e pernas fortes, além de um espírito que não se aquieta? Não me culpe, meu pai, porque preciso rir, correr e brincar.”
“Não tema, pequena, nenhum mal vai te atingir. Pocahontas cuida de você. Ela não vai fechar os olhos enquanto o perigo sondar. Não tema, pequena.”
Com uma liberdade lírica e um tom narrativo suave e cativante, a autora conseguiu reviver a jovem que foi responsável pela mantença da paz entre as tribos dominantes das terras que viriam a ser a Virigínia e Jamestown, o povoado recém formado pelos ingleses que se autoproclamavam descobridores e conquistadores. Pocahontas, uma criança com apenas treze anos à época, foi o elo entre os dois mundos e a responsável por conseguir que as tribos fornecessem alimentos à Jamestown nos períodos de escassez, garantindo a sobrevivência dos ingleses.
Com um espírito inquieto, somos apresentados à uma Pocahontas vívida, alguém que tem sede não apenas no viver, mas em todas as coisas ao seu redor, em descobrir o desconhecido, movida por uma curiosidade destemida.
Sua história começa mostrando suas travessuras de criança, sua ânsia por mais do que a vida aparentemente lhe reservara. A mudança do que prometia ser uma vida de uma princesa que abusa das regalias de ser a preferida do pai, o Chefe Powhatan, surge com a chegada das velas brancas que flutuam pelo mar.
“Eu acho – respondeu ela, falando lentamente – que dentro de mim existe uma flecha, não de madeira e de pedra, mas de manitou. Como posso explicar isso para você? Devo percorrer distâncias para obter feitos. Sou atirada por um arco e não posso hesitar.”
“Não, não vou envelhecer. Não permitirei, um dia, ver a vida como um peso. A senhora não pode ler o futuro, Wansutis. Serei sempre tão viva quanto sou hoje.”
A partir daí, a autora entrelaça a história de duas culturas que se chocam, mostrando em como a protagonista foi essencial nesse enlace e desmistificando algumas ideias, seguindo os fatos narrados nos registros de John Smith. Como mesmo o possível romance entre Pocahontas e John Smith e mesmo o fato famoso em que a princesa o salva da morte quando feito prisioneiro pelos Powhatan.
Mesmo com os acréscimos narrativos da autora, se tem uma versão bem mais próxima dos relatos históricos e, assim, possivelmente, da pessoa que foi tão importante, ainda que não com todo o reconhecimento que merece, para a sobrevivência e instauração da colônia inglesa nas terras indígenas.
Sem dúvidas uma leitura que eu recomendo muito, além de ter sido prazerosa, é importante que conheçamos as versões mais apuradas e próximas das histórias que, quando crianças, povoaram nosso imaginário. Pocahontas foi um desenho da Disney que sempre tive um carinho especial, acho que quando nova já apreciava finais fora do padrão “juntos e felizes para sempre“. Mesmo sabendo das diferenças para a realidade, ainda gosto da animação e o livro, com todo seu encanto, mostrou bem mais de costumes e realidades que podemos encontrar na animação. Se tornou uma história que vou levar comigo, no coração, para sempre. Ainda mais pela beleza em se conhecer outra época e outros povos.
“Um inimigo, por mais que fosse de uma pessoa ou membro de tribo ruim, nunca deveria deixar de receber hospitalidade.”
“Era praticamente impossível para ele pensar nos selvagens como sendo humanos de verdade, incomparáveis até com os turcos. Mas ele não pretendia ferir os sentimentos daquela que havia feito tanto por ele.”
Uma história capaz não apenas de entreter, mas de honrar a memória de Matoaka, a Pocahontas, e lembrar que uma única pessoa pode ser capaz de mudar o mundo ao seu redor.
A edição da Editora Wish faz parte da Coleção Filhos da Floresta, e conta, além da história, com Introdução à edição de 1916 de Virginia Watson; Prefácio da Tradutora, Carolina Caires Coelho; e Posfácio de Sarah J. Stebbins. O box é composto pela edição de Pocahontas e Bambi, de Felix Salten. O livro é feito com capa em papel kraft e pantone, numa proposta mais ecológica para o projeto, que foi financiado pelo Catarse.
“Meu pai não me deu atenção no começo, mas eu pedi e conversei com ele, dizendo que sua amizade para conosco seria como uma maré alta cobrindo as rochas para que pudéssemos navegar com segurança.”
“Nem um dia vai se passar sem que eu espie nas florestas para ver se tudo está bem; meus ouvidos devem se aguçar toda noite para que o perigo não se aproxime. Jamestown é amiga de Pocahontas, direi ao sol para que não venha muito forte sobre ela. Pocahontas ama Jamestown, vou sussurrar ao rio para que não avance demais nas barracas da ilha e… – aqui, o tom meio brincalhão mudou e passou a ser mais sério. – Eu, que me mantenho próxima do coração de Powhatan sussurrarei todos os dias em seu ouvido: Não prejudique Jamestown, se você ama Matoaka.”