Sinopse:
Rosa Villar, agente da ABIN, é chamada às pressas para investigar o atípico envenenamento do filho de uma influente jornalista australiana que passava férias numa praia isolada no nordeste brasileiro. O que Rosa não imaginava é que o bem-estar da criança estaria ligado a membros do alto escalão da embaixada americana. Para sanar os problemas diplomáticos que surgem, Rosa corre contra o tempo à procura do antídoto para a criança. A agente tem fortes indícios de que a Biotech, uma grande empresa farmacêutica chinesa que comanda uma empreitada gigantesca no país, está envolvida no incidente. Sua investigação leva ao centro de controle da corporação, na distante Ilha de Trindade. Lá, Rosa é apresentada à Iniciativa Unicelular, um projeto que imaginou existir somente em histórias fantásticas. No entanto, ela sente que algo mais está à espreita, capaz de colocar não só a sua vida, mas a de todos em risco. Envolta em uma teia de mentiras, conspirações, segredos corporativos e inúmeras mortes, Rosa, para conseguir o que quer, deve descobrir os mistérios escondidos em um lugar onde não só o homem, mas também a natureza serão seus piores inimigos.
Uma das coisas que mais me dá prazer no final de uma leitura é a sensação de ter sido surpreendida positivamente, mesmo com expectativas altas. Essa foi uma das minhas escolhas mais ousadas e inusitadas de 2020. Ficção científica é um gênero que há algum tempo eu tento me dedicar a ler mais e Unicelular foi uma excelente escolha.
Para começar, é impossível não se apaixonar pelo espetáculo produzido pela Martin Claret. A capa dura e o corte colorido são só o começo da experiência. Do lado de dentro, há ilustrações, mapas, recortes de relatórios. Toda a arte é deslumbrante!
A obra se situa dentro do techno-thriller, um subgênero da ficção científica que mistura suspense, policial, thriller, tramas de espionagem… Unicelular é tudo isso.
Dividido em quatro partes, o livro começa narrando incidentes estranhos em praias de diferentes cidades do Brasil por contato com animais exóticos. Reações alérgicas severas, envenenamento e até mortes. Mas quando a situação envolve uma família de turistas estrangeiros e a possibilidade de um conflito diplomático, os eventos isolados passam a preocupar o governo brasileiro e a ABIN (a nossa agência de inteligência) envia Rosa Villar, uma de suas agentes, para investigar a situação.
A partir daí somos apresentados a um mundo fantástico e instigante, cheio de segredos e conspirações envolvendo uma grande empresa chinesa, uma briga por patente e uma ideia revolucionária com o mesmo potencial para ser uma catástrofe.
“O comércio é uma guerra, Sr. Alvarenga.”
Imagine um museu em que é possível estudar e analisar o comportamento de microorganismos? Ver bactérias, fungos, protozoários, seres unicelulares em escala gigantesca? Essa é só uma pequena parte do que é a Iniciativa Unicelular. Um projeto com intenções boas, mas até que ponto? A cada descoberta, Rosa e nós leitores, percebemos o quanto tudo é sombrio e perigoso.
É bem nítido que Tarsis Magellan bebe da fonte de grandes nomes da literatura fantástica, como Michael Crichton e seu Jurassic Park. A comparação é inevitável e de um jeito muito positivo. Micróbios gigantes exibidos em um complexo super tecnológico, escondido numa ilha remota rodeada de conspirações e segredos é tão empolgante quanto dinossauros. Até mais!
Eu fiquei encantada com todo o trabalho de pesquisa e levantamento de dados realizado pelo autor para compor a complexidade da trama. Tudo é muito crível, bem explicado, bem descrito e grandioso.
Aliás, as descrições são um dos pontos altos da narrativa. Tem quem não goste de cenas descritivas, mas aqui funciona bem, porque são muitos detalhes técnicos, procedimentos específicos, organismos com características próprias. Isso torna a narração rica em informações e muito instrutiva. Por outro lado, as cenas de ação são de tirar o fôlego. As reviravoltas são muito empolgantes.
Entre descrições exuberantes e plot twists, o livro ainda traz uma discussão sobre bioética e o conhecido dilema entre ciência e religião, ao mesmo tempo, em que faz sutis críticas sociais, além de criticar o machismo na academia científica e no meio corporativo.
Essa exaltação ao feminino é muito bom de ler. As mulheres têm grande destaque, especialmente Rosa Villar. A agente da ABIN que é o motor da história, um daqueles personagens que a gente quer conhecer mais e ver do que mais ela pode fazer.
Unicelular é como um elaborado quebra-cabeças que vai lentamente encaixando todas as suas peças em subtramas para desenhar uma imagem surpreendente. Acompanhar esse processo é incrível.
Super indico para os amantes de ficção científica, apaixonados por romances policiais ou simplesmente para exaltar a literatura nacional e essa obra inteligente e bem construída.
“É mais que único. É Unicelular”
Torcendo para esse não ser um livro único. Eu preciso de mais!