Sinopse:
Bem-vindos ao mundo imperfeito de Jasmine e Matt. Vizinhos, eles não têm o menor interesse em tornarem-se amigos e nunca haviam se falado antes. Estavam sempre ocupados demais com suas carreiras para manter qualquer tipo de contato. Jasmine, mesmo sem nunca tê-lo encontrado, tem motivos para não suportar Matt. Ambos estão em uma licença forçada do trabalho e sofrendo com seus dramas familiares. Eles precisam de ajuda. Na véspera de Ano-Novo, os olhares de Jasmine e Matt se encontram de forma inusitada pela primeira vez. Eles têm muito tempo livre e estão em uma encruzilhada. Conforme as estações do ano passam, uma amizade improvável lentamente começa a florescer. Uma história dramática, original e divertida como só Cecelia Ahern é capaz de escrever.
Cecelia sempre me surpreende porque parece nadar contra tudo que acredito ser “vendável” no meio editorial, suas histórias são enroladas ou me decepcionam e mesmo assim, não consigo deixar de gostar. Não sei como ela consegue despertar dois sentimentos tão distintos em mim, mas sempre tem algo na mensagem que me cativa ao ponto de valer a leitura.
Minha mudança não foi instantânea, e muitas vezes o ritmo lento da transformação pode ser doloroso, solitário e confuso, mas, mesmo sem que a gente perceba, acontece.
Nessa história, a irmã mais velha da protagonista tem Síndrome de Down, tema que foi abordado com muita sensibilidade. Foi um imenso aprendizado, mesmo não sendo o tema principal, teve grande importância para me fazer entender as ações da personagem.
Heather sabe mais que eu sobre a crueldade do mundo. Ela ouve comentários abusivos a seu respeito, coisas degradantes ditas sobre ela por pessoas decentes comuns que não sabem como lidar com isso, tanto na cara quanto pelas costas, diariamente. Sou uma mera companhia durante tudo isso.
Jasmine ouviu um comentário maldoso sobre a Síndrome de Down em um programa de rádio e desde então cultivava certo “ranço” pelo apresentador. O problema era que o homem também era seu vizinho, Matt. Não tinha como ignorar totalmente a existência dele, enquanto ele não fazia ideia dos sentimentos da vizinha.
No decorrer da história, suas rotinas passam a se cruzar com mais frequência por ambos estarem em um tipo de licença obrigatória do trabalho.
Em uma narrativa be–eeeeeee–m lenta, acompanhei uma aproximação dos dois, enquanto suas particularidades e fragilidades eram expostas. Não é uma história de amor, mas de amizade improvável, do tipo que torna as personagens humanas – gente como a gente – e a identificação chega a ser dolorida de admitir.
A maior parte das pessoas na vida não precisa fazer nada ativamente para nos transformar, ela só precisa ser. Eu reagi a você. Você me afetou. Você me ajudou. Você foi a amizade mais improvável, e o ouvido emprestado mais gentil.
Acho que talvez por ser história e ficção, eu esperava menos choque de realidade. Mas até quando a autora mistura um pouco de fantasia – como foi o caso da leitura: Se você me visse agora –, a mensagem que fica para mim é de nossas falhas não nos definirem, mas existirem e muitas vezes – arrisco dizer: todas! – o que mais nos incomoda, tem a ver com a aquilo que ignoramos em nós mesmos.
Não foi uma leitura fácil mas, pelo ensinamento que ficou, recomendo muito.
Estamos constantemente evoluindo: eu acho que sempre soube disso, mas, porque eu sempre soube disso, eu tinha medo de parar, e é irônico que foi apenas quando parei de vez que mais evoluí. Eu sei que a gente nunca para mesmo, nossa jornada nunca está completa, porque nós continuaremos florescendo — assim como a lagarta que pensou que o mundo tinha acabado, e então se tornou uma borboleta.