Sinopse:
Escrito em 1985, o romance distópico O conto da aia, da canadense Margaret Atwood, tornou-se um dos livros mais comentados em todo o mundo nos últimos meses, voltando a ocupar posição de destaque nas listas do mais vendidos em diversos países. Além de ter inspirado a série homônima (The Handmaid’s Tale, no original) produzida pelo canal de streaming Hulu, o a ficção futurista de Atwood, ambientada num Estado teocrático e totalitário em que as mulheres são vítimas preferenciais de opressão, tornando-se propriedade do governo, e o fundamentalismo se fortalece como força política, ganhou status de oráculo dos EUA da era Trump. Em meio a todo este burburinho, O conto da aia volta às prateleiras com nova capa, assinada pelo artista Laurindo Feliciano.
Por Deus, como começar a falar desse hino em forma de livro? Não é fácil. Confesso que essa foi uma leitura que me impactou profundamente, me fez pensar e refletir dias afins após ter chegado as ultimas paginas. Uma das coisas que me intrigou, foi o fato do livro ter sido escrito em 1985, e possuir uma leveza contemporânea na narrativa.
“Somos úteros de duas pernas, isso é tudo: receptáculos sagrados, cálices ambulantes.”
Tive uma experiência de leitura inacreditável. Mesmo o livro possuindo uma história dolorosa, cruel e anormal, eu me encantei pela narrativa da Margaret Atwood. Foi o meu primeiro contato com a autora e ela me ganhou completamente. Eu sempre quis ler O Conto da Aia, mas ficava receosa se o livro era realmente bom, e o que significava ser uma Aia em 1985 após o estado ter se tornado totalitário e teocrático.
“Quando pensamos no passado são as coisas bonitas que escolhemos sempre. Queremos acreditar que tudo era assim.”
O termo “bom” para definir esse livro é algo pequeno, em minha opinião O Conto da Aia é extraordinário. A história trás uma versão macabra de como um golpe de uma seita católica colocou fim a democracia existente nos Estados Unidos e transformou essa grande potencia na republica de Gilead. E as conseqüências desse golpe foram cruéis. Eu consegui sentir na pele o horror que as mulheres que se tornaram Aias eram submetidas.
“Conto, em vez de escrever, porque não tenho nada com que escrever e, de todo modo, escrever é proibido. Mas se for uma história, mesmo em minha cabeça, devo estar contando-a a alguém. Você não conta uma história apenas para si mesma. Sempre existe alguma outra pessoa. Mesmo quando não há ninguém. Uma história é como uma carta.”
Perder o direito de ser quem você é, de ler qualquer tipo de livro, assistir até as coisas mais banais, não poder estudar ou exercer sua profissão, mas ser obrigada e se submeter a um regime cruel onde as mulheres servem apenas para reproduzirem como vacas parideiras, não é algo fácil de ler. Segurei o choro de raiva em diversos momentos ao ver Offred sendo obrigada a deixar o seu direito como mulher, como ser humano ser jogado no lixo e aceitar uma realidade tão cruel quanto a descrita na história.
“Os jovens são com freqüência os mais perigosos, os mais fanáticos, os mais nervosos com suas armas. Ainda não aprenderam com o tempo sobre as coisas da vida.”
Isso me fez questionar o que aconteceria se realmente sofrêssemos um golpe de Estado assim. Oro para que isso não aconteça, mas os caminhos em que o Brasil está indo, só um milagre para impedir tal fato. Me disseram que após a leitura desse livro eu fiquei paranóica com relação a isso, mas discordo veemente, sempre me preocupei com a possível perca da nossa democracia, e O Conto da Aia só abriu os meus olhos ainda mais para esse fato. Sempre serei grata a Margaret Atwood por ter escrito essa história.
“Foi então que suspenderam a Constituição. Disseram que seria temporário. Não houve sequer nenhum tumulto nas ruas. As pessoas ficavam em casa à noite, assistindo à televisão, em busca de alguma direção. Não havia nem um inimigo que se pudesse identificar.
Cuidado, disse Moira para mim, ao telefone. Está vindo por aí.
O que está vindo por aí?, perguntei.
Espere só, disse ela. Eles têm estado se preparando para isso. Seremos você e eu contra a parede, querida. Ela estava citando uma expressão típica de minha mãe, mas não tinha a intenção de que fosse engraçado.”
E você que ainda não conhece a história, lhe faço um sincero convite para que o faça. Esse livro deveria ser leitura obrigatória.