Sinopse:
Rodrigo Carvalho, autor e correspondente da TV Globo e GloboNews, conta a dramática história do resgate do time de futebol juvenil que ficou dezoito dias preso em uma caverna na Tailândia. Os meninos da caverna vai muito além do resgate espetacular, mergulhando na origem dos Javalis Selvagens e visitando o contexto político, social e religioso do país. Traz, ainda, os cenários do Sudeste Asiático e destrincha por que o time se tornou um símbolo de solidariedade mundial, em uma história capaz de desviar as atenções de uma Copa do Mundo. O autor nos mostra o quão poderoso e transformador é o exercício de se colocar no lugar do outro, não importa se ele está na nossa esquina ou em uma caverna tailandesa. Esta é, sobretudo, uma história de esperança.
“Era para ser um passeio de uma tarde. Depois de três horas de futebol, suados e malcheirosos, os doze meninos e técnico saíram do treino eufóricos: finalmente voltariam à caverna Tham Luang, a maior da Tailândia e uma das mais bonitas da região. Desta vez, iam por uma razão especial: comemorar os dezesseis anos de Pheeraphat Sompiengjai, conhecido nas redondezas como Night. Fazia tempo que o aniversário de um deles não caía num sábado. Explorariam, sem pressa, como vinham planejando havia tempos.”
(Página 18)
Quando assistimos no telejornal, lemos na internet ou escutamos no rádio a notícia de algo impactante – tipo uma tragédia, desaparecimentos, guerras, entre outras coisas – não temos como mensurar de maneira exata tudo o que envolve aquele acontecimento. Embora os meios de comunicação nos permitam acesso a detalhes, dificilmente teremos a mesma visão de quem esteve ali no olho do furacão, compartilhando com as pessoas daquele lugar todo tipo de emoção provocada pelo ocorrido.
“Colocar-se no lugar dos meninos era uma forma de visitar medos e angústias, de sofrer com eles, por eles, e de dormir imaginando o pesadelo de acordar e ter que contar ao Brasil que um dos garotinhos tailandeses tinha morrido.”
(Página 23)
No período da última Copa do Mundo, além de estar antenada a algo que faz as nações literalmente pararem para acompanhar a disputa, a população assistia a um dos resgates mais dramáticos que eu, particularmente, já vira. Doze meninos – coincidentemente jogadores de futebol – mais o seu técnico, ficaram presos numa caverna tailandesa durante dezoito dias!
Confesso que não sou do tipo que fica muito tempo atenta à TV, embora aqui em casa ela fique ligada sempre, mas recordo que, nessa ocasião, uma das primeiras perguntas que passavam pela minha cabeça ao acordar era: “Será que aqueles meninos foram resgatados?”. Minha reação automática a essa questão era ver se estavam noticiando algo sobre os Javalis Selvagens.
Entretanto, nada melhor do que ter em mãos o relato de quem esteve lá acompanhando de perto todo o drama desse resgate.
“Quando tudo acabou, paramos um instante e deixamos as emoções fluírem. Foi aí que o sentimento tocou lá no fundo. Dissemos: ‘Cumprimos uma grande missão com uma equipe enorme, com muitas pessoas diferentes que se uniram. E o mundo todo assistiu’.”
Derek Anderson, Norte-Americano
(Página 82)
Rodrigo Carvalho, repórter correspondente da Globo News e da TV Globo na Europa, nos presenteia com Os Meninos da Caverna, uma obra bastante rica e narrada com uma sensibilidade que só se vê em quem, verdadeiramente, se coloca no lugar do outro e já viu de perto muitas situações críticas em diferentes contextos.
Foi um dos motivos de eu ter amado tanto esse livro.
“O que fez a diferença no resgate dos Javalis não foi a tecnologia, mas as pessoas – um grande trabalho coletivo pelo o que parecia impossível. Nos meus últimos dias em Chiang Rai, ouvi um ditado tailandês que ajuda a entender por que os meninos saíram lá de dentro.
Pegue o meu coração como se fosse o seu.
(Página 106)
A obra superou minhas expectativas, pois, muito mais do que relatar o que se passou durante esses dezoito dias na província de Chiang Rai, o autor apresenta através da história dos protagonistas desse acontecimento partes importantes da essência daquele lugar. As questões sociais, a política, a religiosidade, o imaginário de uma cultura tão diferente e distante da nossa.
— Os Javalis Selvagens. A origem da escolinha e as mudanças após o resgate dos meninos.
— Desigualdade social. A história da família de Adul, um dos Javalis, que fugiu da dura realidade de Mianmar para tentar a vida na Tailândia. O menino que foi peça importante na comunicação com os mergulhadores britânicos durante o período na caverna.
— Religiosidade. Alguns aspectos do Budismo e a técnica de meditação utilizada por Ake com os garotos, que foi de suma importância na luta pela sobrevivência de todos durante os dias em que estiveram presos. Ake é o técnico-monge do time.
— Imaginário popular. A lenda envolvendo a caverna Tham Luang e a superstição de alguns acerca da morte do mergulhador Saman Kunan.
— A comoção de um povo diante de um homem que deu a vida pelos meninos presos naquela caverna, algo diferente dos fundamentos do Budismo e sua visão diante da morte.
— A complexidade da dinâmica durante o resgate e o número surpreendente de pessoas envolvidas, nativos e estrangeiros.
— A grande diferença que a solidariedade do tailandês se fez nesse processo.
— A expectativa e a dificuldade do Jornalista em, enfim, ficar cara a cara com os Javalis. A emoção do encontro.
“Quando os Meninos da Caverna chegaram, descalços e sorridentes, como chegam os grandes anfitriões, era como se eu revisse os amigos que chamo de melhores, no pico de uma saudade. Trocamos sorrisos, nos cumprimentamos curvando nossos corpos, como se faz na Tailândia, e praticamos a língua das mãos espalmadas. Essa sequência se repetiu por mais alguns segundos, em looping: sorrisos, corpos curvados e mãos espalmadas.”
(Página 137)
Uma das coisas que mais admiro num jornalista é a empatia diante de acontecimentos assim. Deve ser bem difícil, em algumas circunstâncias, manter a imparcialidade e empatia não é algo que se interpreta. A gente percebe quando é um sentimento genuíno.
O trabalho de pesquisa do Rodrigo para esse livro é simplesmente incrível, de uma riqueza gigante! Além disso, sua narrativa emociona e foi conduzida de forma belíssima. É como se ele estivesse sentado aqui ao lado, conversando e fazendo a leitora de cá sentir além do que sentiu naquele Julho, assistindo as suas reportagens.
Dia 03 de Maio é comemorado o Dia da Liberdade de Imprensa e aproveito a oportunidade para deixar um abraço de admiração e respeito a todo profissional da área que realiza seu trabalho de maneira íntegra e humana.
Até a próxima!
“Em nossas vidas, a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na nossa adaptabilidade em sobreviver a tudo de ruim.”
Buda