RESISTÊNCIA

Affinity Konar

Editora: Fábrica 231

Páginas: 319

Ano: 2017

Sinopse:

Auschwitz, 1944. As gêmeas Pearl e Stasha têm 12 anos quando desembarcam no campo de concentração nazista na Polônia. à medida que conhecem o horror e têm suas identidades fraturadas pela dor e sofrimento, tentam confortar uma à outra e criam códigos e jogos para se proteger e recuperar parte da infância deixada para trás. Mas quando Pearl desaparece sem deixar pistas, Stasha se recusa a acreditar que a irmã esteja morta e embarca numa jornada desesperada em busca de justiça, paz e de si mesma. Livro notável pelo The New York Times; Livro do Ano pela Amazon e pela Publishers Weekly; indicação de leitura dos principais veículos de imprensa norte-americanos, Resistência narra, com uma voz poderosa e única, a trajetória de duas irmãs lutando pela sobrevivência em um dos períodos mais devastadores da história contemporânea e mostra que há beleza e esperança até diante do caos.

No primeiro romance da autora Affinity Konar, nós leitores, somos conduzidos a história de Pearl e Stasha; uma história sobre resistir, renascer, juntar os pedaços e seguir em frente depois de atravessar o terror e a maldade que foram submetidas não apenas por serem judias, mas também por ter sido geradas juntas, por serem gêmeas e compartilhar muitas peculiaridades.

“Alguém aí já experimentou viver sem sua melhor parte, separada por uma distância desconhecida?”

Pearl e Stasha eram gêmeas idênticas: meninas educadas, instruídas e cheias de sonhos para o futuro. Mas, aos doze anos de idade, a guerra se fez presente, destruindo tudo de melhor que existia.

Quando todas as famílias de judeus foram encaminhadas para o Gueto, todo o tormento se tornou constante, assim como o cheiro cadavérico da morte.

As meninas perderam o pai, que por ser médico saiu a noite para socorrer uma criança, e nunca mais voltou. Sua mãe, sofrendo muito com a situação, fora acometida a depressão , desaparecendo dia após dia num mar de tristeza, dor e sofrimento, restando apenas Zayde, o querido avô que fazia daqueles dias menos cruéis com suas histórias e jogos.

Entre tantas lutas para resistir, foi no vagão de gado que o destino das meninas mudou drasticamente, pois o Dr. Mengele, conhecido “Anjo da Morte”, descobriu as gêmeas lindas e idênticas e, com a promessa de ter regalias no Zoológico de Auschwitz, a mãe e o avô as deixaram partir com esperança de dias melhores e de que lá elas seriam salvas.

No início parecia que tudo seria como prometido, mas logo as garotas foram destinadas a serem cobaias, passando por procedimentos cruéis nas mãos de Mengele e, a mais forte delas, quem sabe sobreviveria.

“O que sabia era que aquelas gêmeas um dia contariam para o mundo a história do homem que não era anjo, nem médico, nem tio, nem amigo, nem gênio. Elas falariam do homem que nós, cobaias, baniríamos dos nossos pensamentos, exceto quanto tivéssemos de avisar aos outros que pessoas como ele existiam, que elas viviam entre nós, sem alma, querendo fazer mal aos outros como esporte, perfeição e  satisfação de alguma crueldade inata.”

Todas as crianças acometidas ao Zoológico precisavam permanecer juntas, criar um laço para tentar sobreviver. Amigos foram feitos em meio a toda aquela desolação, muitos morreram do dia pra noite, outros resistiram aos horrores do Zoológico, mas Pearl, a alma gêmea de Stasha, a irmã que se dividiu para lhe dar a vida, misteriosamente desaparece sem deixar pistas, deixando-a em desespero e desalento. Mas, motivada pela sede de encontrar sua irmã e acabar com  o Anjo da Morte, a garota arriscou o pouco que lhe restava de vida saiu em busca de respostas.

“E naquele momento, sem ninguém com quem dividir minhas responsabilidades, assumi todas. Assumi a esperança e o risco, a determinação imprudente, a crença teimosa de que, mais uma vez eu ia sobreviver.”

Logo que percebi que essa é uma história baseada em fatos reais, inspirada na vida das gêmeas Eva e Miriam Mozes, fiquei ainda mais angustiada em saber das barbáries ocorridas em Auschwitz. Quando pensamos que nada mais pode piorar, encontramos alguém estendendo as mãos para pessoas indefesas, prometendo proteção, quando na verdade, tirava suas vidas por hobby, por pura e unicamente crueldade.

Dr. Mengele, o famoso colecionador de cobaias, não queria apenas gêmeos para fazer testes, arrancar suas entranhas e injetar produtos químicos em ambos para ver qual sobreviveria a aquele ato desumano, mas também grávidas, albinos, anões e todas as pessoas que se destacavam por alguma peculiaridade, para que fossem também cobaias em seus experimentos.

Eva e Miriam, que deram voz a Pearl e Stasha, foram exemplos de força e determinação. É a confirmação de que para sobreviver ao pandemônio, é necessário muita esperança, amor e resistência.

A jornada em busca de suas metades fora dolorosa e muitas vezes desanimadora. A cada cidade, cada rua por onde passavam as únicas coisas que restavam eram ruínas, morte e maldade. Mas, não podemos negar que quem sobreviveu ao Holocausto, principalmente sendo criança e perdendo sua inocência tão cedo, fora, de fato grande exemplo de luta e perseverança, deixando um grande legado para nós, que ainda hoje somos ingratos diante de situações tão simples comparadas ao inferno dos campos de concentração.

Este é um livro muito bem detalhado, que narra pelos olhos de crianças os horrores ocorridos no Zoológico em Auschwitz a que foram destinadas, bem como todo o percurso que fizeram após ficarem livres das cercas que os mantinham cativos. Mesmo sendo triste conhecer todo aquele sofrimento em que elas foram submetidas, é lindo também observar o quanto foram fortes e resistentes ao maior mal que encontraram em seus caminhos.

“Meu perdão era uma repetição constante, o fato de que eu ainda estava viva. No meu perdão, o fracasso deles de me matar ficava patente.”

Publicado em: 11/03/2020

01 Comentário

  1. Marina Mafra11 mar, 2020Responder

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