Sinopse:
Todas as crianças têm medo de escuro. O escuro é um quarto sem portas nem janelas, com monstros que nos prendem e nos devoram em silêncio. Eu tenho medo só do meu escuro, aquele que tenho dentro dos olhos. Para Mafalda, de nove anos, o escuro é a sua única certeza e o seu destino: em algum momento nos próximos seis meses ela perderá a visão. Diante de um futuro assustador e desconhecido, Mafalda – com a ajuda de sua família e seus amigos – precisará descobrir o que realmente importa conforme sua visão começa a falhar.
Livros que abordam doenças genéticas já são sensíveis por si só e, quando ele é narrado por uma criança, com toda meiguice e sensibilidade, nos causam emoções indescritíveis.
“Todas as crianças tem medo do escuro, eu também tenho, porque pra mim o escuro é uma venda nos olhos que coloquei para brincar e agora não posso mais tirar.”
Mafalda sempre usou óculos, mas aos poucos sua visão foi ficando cada dia pior; a névoa, o escuro, as dúvidas e o medo só aumentavam, mas vontade de buscar independência também andava junto com a garotinha. Então, Mafalda treinava vendada, contava passos, apurava seus outros sentidos; seu olfato ficava cada dia melhor, e os pequenos barulhinhos lhe guiavam aonde quer que fosse.
Certo dia, quando fora junto com os pais a uma consulta com a Dra. Olga, a menina descobriu que tinha uma doença rara, que se chamava Stargardt e causava perda progressiva da visão, sem chances de cura. Assustador? Imagine quando se é criança e tudo que mais gosta na vida são as cores, o céu e subir em sua cerejeira preferida?!
Apesar do escuro assustador e indesejável, Mafalda não se deixou abater, e procurava sempre a companhia de seus pais e seus amigos: Estella, a funcionária da escola que sempre lhe incentivou a buscar o seu melhor, Felipe que chegou de repente, mas se tornou uma peça fundamental em sua vida, e seu lindo e gordo gatinho Ótimo Turcaret.
“Encontre sua rosa, Mafalda. O seu essencial. Uma coisa que você pode fazer até sem os olhos.”
Mas as névoa estava indo rápido demais, a contagem de seus passos de onde seus olhos começavam a enxergar a cerejeira até alcança-la, ficavam cada vez mais próximos. Talvez ela pudesse ir morar na cerejeira junto com a vovó, o Cosmo e o Gigante, talvez ela conseguisse fazer tudo isso antes que o escuro de dentro de seus olhos se fizessem presente por completo.
“Eu queria sonhar que estava brincando de cabra-vendada, depois acordar e descobrir que ainda estava com a venda nos olhos, assim eu poderia tirá-la e enxergar bem outra vez.”
Quantos medos se fazem presente em nossos escuros, sejam eles patológicos ou sentimentais?! Somos humanos e cheios de incertezas, o futuro é algo duvidoso, e muitas vezes o escuro não está apenas por detrás dos nossos olhos, mas sim fazendo parceria com as nossas dúvidas e medos.
A história de Mafalda é inspiradora. Uma garotinha que antes mesmo dos 10 anos de idade teve que lidar com perdas, tanto de pessoas que amava como físicas.
Mas, isso não importava, pois sabia que mesmo que o escuro lhe acompanhasse, ela buscaria o seu essencial como sua amiga Estella lhe ensinou, então, sua procura passou a ser feita incessantemente apesar de todos os obstáculos que encontrou em seu caminho.
No livro é retratada também a saga de uma família que procurava encaixar uma criança com deficiência visual num mundo que requer muito cuidado e atenção, procurando a acomodar em lugares adequados, buscando ensinar o braile, ouvir audiobooks, e dar todo conforto que poderiam. Uma história, que apesar de abordar algo forte e sensível, traz uma escrita fluída e que não nos deixa triste, pelo contrário, nos agracia com uma pessoinha forte e determinada, que mesmo com todos os seus medos encontrou o essencial!
“Um grande sorriso desaponta em mim. É estranho me sentir com sorte por algo que posso fazer sem os olhos. E sem óculos.