Sinopse:
Annabelle leva uma vida perfeitamente sob controle. Ela tem amigos, segue sua rotina à risca, está prestes a se formar e mora com os pais e o irmão mais velho em uma casa que ama. Mas as coisas começam a fugir do controle quando Lucy Keating, autora best-seller de livros juvenis, vai à sua escola falar sobre seu novo romance e, curiosamente, passa a descrever a vida de Annabelle. Logo fica claro que Annabelle é a mais nova protagonista da história de Lucy e, de súbito, o relacionamento de seus pais não parece mais tão perfeito, a casa que tanto ama corre sérios riscos de ser vendida, Will — um aluno transferido que parece literalmente feito para ela — não é mais tão interessante e Elliot, o melhor amigo de seu irmão, passa a ser algo mais que apenas um coadjuvante em sua história. Lucy Keating pode ter um plano para ela. Mas Annabelle está disposta a escrever sua própria história.
Às vezes quando estou lendo um livro e rola identificação com alguma personagem, me imagino sendo aquela pessoa, vivendo todas suas situações e, eventualmente, idealizando um rumo diferente daquele que foi escrito. Certamente é o que acontece com todo leitor.
Na dica de leitura de hoje a personagem principal não está lendo um livro, nem fantasiando em ser heroína de alguma história. Ela é, de fato, a protagonista de uma trama que está sendo construída por uma famosa autora. E não está nada satisfeita em como as coisas estão caminhando.
Annabelle Burns é uma adolescente obcecada por organização. Cada mínima atividade em sua rotina é planejada e registrada em seu calendário. Tudo separado por cores e absolutamente sob controle.
“A Casa”, como carinhosamente chama o lugar onde reside, é seu lugar favorito no mundo e o relacionamento com os pais não poderia ser melhor. Tirando o fato de Elliot, chato e melhor amigo do seu irmão, passar mais tempo na cozinha da Annabelle do que na sua própria e Napoleão, o cão insuportável do pai, sempre tirá-la do sério, diria que sua vida é perfeita. Até que um dia tudo parece virar de ponta à cabeça.
Os pais declaram que estão em processo de divórcio e A Casa é posta à venda. Napoleão estranhamente muda seu comportamento em relação à Annabelle e o Elliot se torna um cara cheio de atrativos.
“Eu sinto como se meu mundo estivesse girando, a mesa de café da manhã virando de cabeça para baixo, como se eu estivesse caindo na toca de um coelho. (…) Não entendo como isso está acontecendo. Essa é a nossa família. Esta é nossa casa. É assim que funciona.” (Páginas 17/18)
Não bastasse o caos na vida familiar, em sua aula de ficção – que a propósito ela não curte – os alunos recebem a visita da famosa escritora Lucy Keating. Entre outras coisas, a visitante fala sobre o novo livro que está escrevendo. Para a total surpresa de Annabelle, Lucy parece estar descrevendo a história da sua vida. Ao ser questionada, a autora não nega a suspeita da jovem e afirma que ela é, realmente, a protagonista do seu novo projeto.
Inicialmente Annabelle reluta em acreditar que isso é possível, mas alguns acontecimentos criam uma grande confusão em sua cabeça. Sua vida amorosa, de morna, passa a ficar bastante confusa, tudo envolvendo certo garoto novo e o velho Elliot. Sem falar nos aviõezinhos de papel e bilhetinhos que surgem do nada “narrando a próxima cena”.
E, então, realidade e ficção se mesclam, fazendo nossa protagonista questionar sobre tudo e todos ao seu redor, levando-a a buscar sua verdadeira identidade e meios que a possibilitem escrever sua própria história.
“(…) – Acho que as coisas mudam. As pessoas mudam. Você não sabe o que vem a seguir. Acho que você deve tentar o máximo para encontrar o seu melhor e a pessoa que pode fazer que você seja seu melhor.” (Página 155)
Lucy Keating criou uma história fantástica, onde autora e personagem conversam “Literalmente”. É como se entrássemos no mundo da escrita de Keating, tendo a possibilidade de conhecer um pouco esse processo. E isso através de uma trama muito bem elaborada, com personagens cativantes e um senso de humor muito bacana.
A interação entre Lucy e Annabelle é na maioria das vezes sutil e não há muitos diálogos, de fato. Em alguns momentos é como se a protagonista fosse uma Beta Reader da própria história e observasse falhas na trama que devem ser revisadas. Mais que isso, ela não concorda com o rumo que Keating está dando à narrativa e eu fiquei o tempo todo me perguntando qual seria o desfecho de tudo.
Um livro simplesmente maravilhoso e imprevisível. Uma delícia de ler!