Sinopse:
Anna Fox mora sozinha na bela casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo (muito) vinho, assistindo a filmes antigos, conversando com estranhos na internet e... espionando os vizinhos. Quando os Russells – pai, mãe e o filho adolescente – se mudam para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela família perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando através de sua câmera, ela vê na casa deles algo que a deixa aterrorizada e faz seu mundo – e seus segredos chocantes – começar a ruir. Mas será que o que testemunhou aconteceu mesmo? O que é realidade? O que é imaginação? Existe realmente alguém em perigo? E quem está no controle? Neste thriller diabolicamente viciante, ninguém – e nada – é o que parece. "A Mulher Na Janela" é um suspense psicológico engenhoso e comovente que remete ao melhor de Hitchcock.
Resenha:
“Esse é o meu Império do Sul e esses são os meus súditos. Nenhuma dessas pessoas se tornou minha amiga; a maioria delas eu não encontrei mais do que uma ou duas vezes. Coisas da vida urbana, acho. Talvez o casal Wasserman tivesse certa razão. Fico me perguntando se eles sabem o que foi feito de mim.” (Página 22)
A paranóia é considerada um transtorno mental que possui um padrão hostil de desconfianças e suspeitas em relação a outras pessoas. Alguns consideram uma forma de loucura, outros apenas algo passageiro e de momentos. Mas se até Michael Jackson já foi diagnosticado com paranóia, quem mais estaria a salvo desse transtorno?
Anna Fox é uma mulher marcada pela dor e pelo sofrimento. Ainda vive sozinha na enorme casa em que morava com seu marido Ed e sua pequena filha Olívia, desde que foi separada de ambos. Anna desenvolveu agorafobia, um transtorno psicológico que está fortemente ligado a ataques de pânico. Por causa dessa fobia ela não sai de casa há quase onze meses, seu lar virou o seu ponto de paz.
“A literatura médica é particularmente criativa na descrição dos diagnósticos. “Medos agorafóbicos (…) incluem o medo de sair sozinho de casa; o medo de ficar cercado por multidões ou de entrar em filas; o medo de atravessar pontes.” Puxa, o que eu não daria para ser capaz de atravessar uma ponte! Ou de entrar numa fila! Também gosto deste: “medo de sentar nas poltronas centrais de um teatro.” Poltronas centrais são as melhores, não são?” (Página 26)
Passando os dias regada a altas doses de remédios misturados a várias e várias taças de vinho, filmes antigos em preto e branco, em um grupo de apoio na internet ajudando estranhos, e espionando os vizinhos com a ajuda de sua câmera Nikon D5500 que não deixava passar nada, jogando xadrez online até perder a noção do tempo, essa se tornou a vida de Anna.
“– Às vezes fico pensando em muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. É como se tivesse um cruzamento no meu cérebro e todo mundo estivesse tentando atravessar ao mesmo tempo.” (Página 69)
Espionar os vizinhos era o seu passatempo preferido, e tudo mudou quando a família Russell se mudou para a casa ao lado do parque. Um pai, uma mãe e um filho adolescente que pareciam ser uma família perfeita, lembrando a Anna o que ela havia perdido. Imediatamente ela se sentiu obcecada por eles. Mas você sabe realmente o que acontece entre quatro paredes na vida de uma família? Nem tudo são flores, não existe ninguém perfeito nesse mundo.
“Sinto o lado de fora tentando entrar. Não foi assim que Lizzie falou outro dia? O mundo externo inflando na rua, flexionando os músculos, arranhando a madeira da porta. Posso ouvir sua respiração, o vapor que ele sopra pelas narinas, o ranger dos dentes. Um monstro prestes a me atropelar, a me rasgar em duas, a me devorar.” (Página 127)
Em uma noite qualquer, Anna vê algo através de sua câmera enquanto espionava a família Russell e seu mundo entra em colapso. Ela presencia algo que a deixa amedrontada e questionando sua sanidade. Será mesmo que ela viu o que viu ou foi apenas alguma alucinação dos remédios misturados com o vinho? E aquele grito de horror que ecoou pelo ar? Alucinações produzem sons também? A realidade e a imaginação se chocam na cabeça de Anna. Mas de uma coisa ela tem certeza: algo aconteceu naquela casa e uma certa pessoa corre perigo.
“Uma doida aos olhos dos vizinhos. Uma piada aos olhos da polícia. Um caso especial aos olhos dos médicos. Um caso perdido aos olhos do terapeuta. Uma encarcerada. Longe de ser uma heroína de cinema. Longe de ser uma detetive.
Encarcerada em casa. Afastada da vida.” (Página 198)
Pensem em um suspense psicológico, bem construído e que faz o leitor se entregar a leitura ao ponto de esquecer a vida lá fora. Assim é A mulher na janela. A forma como o autor explorou o universo dos transtornos mentais, a mente de alguém que possui uma fobia muito grave, a forma como ele entendeu o universo feminino e retratou a realidade da vida de Anna, foram algo que me fizeram ficar de queixo caído. São poucos os autores masculinos que conseguem retratar o universo feminino com tanta destreza, e A. J. Finn foi um deles.
“– Você não acha que está sendo um pouquinho paranoica?
Antes que ele possa dizer mais alguma coisa, disparo:
– Não é paranoia se está realmente acontecendo.” (Página 208)
É impossível não entrar na mente de Anna Fox e viver com ela todas as paranóias que rondam sua cabeça. Me comovi com a personagem em diversas cenas, e uma delas arrancou lágrimas em meus olhos e um aperto gigantesco no coração me fazendo entender o que a Anna do passado fez a Anna de hoje se tornar. Toda ação tem uma reação, e no fim pagamos a conseqüência de nossos atos.
Nada nunca é o que parece, ninguém é tão bom ou tão mal quanto pensamos. Todos possuem segredos, e na mente de um psicopata não há limites para a maldade. Essa é uma história de tirar o fôlego, um suspense viciante que vai mexer com a sanidade dos leitores, assim como mexeu com a de Anna.