Senhor das Moscas

William Golding

Editora: Alfaguara

Páginas: 224

Ano: 2014

Sinopse:

Durante a Segunda Guerra Mundial, um avião cai numa ilha deserta, e seus únicos sobreviventes são um grupo de meninos. Liderados por Ralph, eles procuram se organizar enquanto esperam um possível resgate. Mas aos poucos esses garotos aparentemente inocentes transformam a ilha numa visceral disputa pelo poder, e sua selvageria rasga a fina superfície da civilidade. Ao narrar a história de meninos perdidos numa ilha, aos poucos se deixando levar pela barbárie, Golding constrói uma reflexão sobre a natureza do mal e a tênue linha entre o poder e a violência desmedida.

A história começa quando um avião que levava crianças refugiadas da guerra cai em uma ilha deserta matando todos os adultos a bordo. Com água e frutas a vontade, sem a supervisão de um adulto e pouca noção da gravidade da situação, as crianças sobreviventes viam aquilo como uma grande oportunidade de se divertir da forma que bem entendessem, mas Ralf, um dos garotos mais velhos começa a perceber que alguma providencia deve ser tomada ou eles nunca seriam resgatados. Com a ajuda de Porquinho, um garoto muito inteligente, mas vítima constante de bullying por ser gordinho e asmático, Ralf reúne as crianças pra discutir o que poderia ser feito.

A primeira atitude do grupo é que eles deveriam ter um líder e é nesse momento que conhecemos Jack, um garoto arrogante e que por ser líder do grupo de garotos do coro, acha que ele é a escolha mais óbvia, mas condicionados à sociedade em que viviam antes, o grupo decide que a escolha do líder deveria ser feita democraticamente. Uma votação é feita e Ralf é eleito. A partir desse momento, começa a criar uma rivalidade alimentada por Jack.

Precisamos ter regras e obedecer a elas. Afinal, não somos selvagens. Somos ingleses e os ingleses são melhores em tudo.

Como líder, Ralf estabelece regras. A primeira é de que toda vez que ouvissem a concha tocar, eles deveriam se reunir naquele mesmo local da votação. Nas reuniões eles deveriam falar somente quando estivessem segurando a concha, assim todos teriam a oportunidade de falar sem ser interrompidos. Tarefas seriam organizadas e divididas entre as crianças e para amenizar a frustração de Jack, Ralf o designa como responsável pela caça junto com o grupo do coro do qual ele ainda continuaria sendo o líder. Mas a regra mais importante é que uma fogueira deveria ser feita e mantida acesa 24h por dia, pois só assim algum navio ou avião poderia ver a fumaça e resgata-los.

Com o passar do tempo, obrigações começam a ser descumpridas. Crianças que antes eram responsáveis por coletar água para o consumo ou ajudar na construção de cabanas, começam a deixar aquilo de lado para brincar ou para se juntar ao grupo do Jack. Caçar e explorar a ilha acabava se tornando uma aventura mais atraente do que trabalhar. Incomodado, Ralf questiona Jack sobre a falta de cooperação do seu grupo e isso acaba sendo motivo pra diversas discussões entre os dois, mas a gota d’água acontece quando as duas crianças responsáveis por manter fogueira acesa, são recrutadas por Jack e deixam suas obrigações para se juntar em uma caçada. Isso resulta em uma grave consequência. Ralf ao saber disso, fica enfurecido enquanto Jack não dando a mínima, se contrapõe às regras estabelecidas. Para Jack, em algum momento alguém virá procurá-los ali, então pra que se preocupar com fogueira, com obrigações e regras?

[…] e a máscara tornou-se algo independente, atrás da qual Jack se escondia, livre da vergonha e da consciência de si próprio.

A sociedade criada inicialmente acaba se dividindo em duas. Alguns poucos garotos que ainda se preocupam em ser resgatados e em manter alguma civilidade, ficam com Ralf, mas a maioria atraídos pela diversão das caças, por promessas de proteção e por banquetes cheio de carnes oferecidos por Jack, acabam optando por ficar com ele. Finalmente Jack se torna líder de um grupo, mas ser líder de um grupo já não era o bastante. Nesse momento a rivalidade que existia na cabeça de Jack entre ele e Ralf, acaba se tornando ódio e então ele começa a plantar na cabeça das outras crianças a ideia de que Ralf e sua turma eram perigosos. Com isso, conflitos são iniciados, agressões por motivos fúteis e até assassinatos são cometidos.

Confesso que peguei esse livro sabendo muito pouco do que se tratava. Na minha cabeça era mais uma aventura com crianças tipo As Aventuras de Tom Sawyer ou Os Goonies por exemplo. Eu estava completamente errado.
O livro é uma grande alegoria da nossa sociedade. Cada criança por menos explorada que ela seja no livro, cada objetos e até mesmo o título representa algo importante como democracia, tirania, religião, ciência, populismo…

O livro também questionar a natureza humana e se contrapõe a teoria do filósofo J.J. Rousseau que afirma que o homem nasce bom e no decorrer da vida é corrompido pela sociedade.
A intenção de Golding aqui ao meu entender –já que esse livro possibilita várias formas de interpretação–, é passar a ideia que crianças entre 6 e 12 anos, livres, vivendo fora da sociedade que conhecemos e sem regras, acabam se deixando levar por sua natureza má ou seja, nascemos com o instinto da maldade e só não a cometemos –ou não deveríamos cometer– porque crescemos condicionados a refrear esses instintos. Família, escola, religião nos conduzem a uma vida em sociedade pautada em regras, leis e respeito mútuo.

Senhor das Moscas é um livro que requer paciência. Com várias descrições sobre a ilha, ele te leva em banho Maria até um pouco mais da metade do livro, mas depois te recompensa fazendo você querer saber o que vai acontecer na próxima página.

Publicado em: 27/02/2020

01 Comentário

  1. Marina Mafra01 mar, 2020Responder

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